Cartão corporativo não é benefício: é ferramenta de trabalho.
E, como toda ferramenta, exige regras claras, controle e governança, antes que se transforme em passivo trabalhista ou, pior, em uma crise reputacional.
Em um cenário de mobilidade ampliada e despesas pulverizadas, empresas que oferecem cartão corporativo, apps de transporte e outras facilidades precisam olhar para um ponto essencial: sem política interna formal, toda vantagem operacional pode se transformar em passivo trabalhista. A ausência de regras objetivas dá margem a interpretações oportunistas, uso indevido, expectativas desalinhadas e até alegações de salário disfarçado, dentre outros.
Além disso, quando não existe política escrita, a empresa perde musculatura para aplicar medidas disciplinares. A justa causa, que exige prova robusta e ciência prévia do empregado quanto às condições, perde robustez. Sem normativo formal, qualquer punição fica vulnerável a reversões, ampliando custos, risco jurídico e desgaste interno.
Por isso, para além da concessão de ferramentas de trabalho, é fundamental instituir políticas claras, com critérios de elegibilidade, limites financeiros, finalidades permitidas, regras de comprovação e mecanismos de auditoria. O ideal é que essas diretrizes constem do regulamento interno ou documento próprio, com ciência expressa dos colaboradores e reforço por treinamentos periódicos. Não é burocracia; é governança. É alinhar expectativas e reduzir zonas cinzentas que alimentam conflitos.
Ignorar o tema tem preço. Empresas sem política de gastos frequentemente são surpreendidas por auditorias internas, denúncias anônimas ou ações judiciais que questionam irregularidades ou excessos. Nesses casos, a falta de regulamentação fragiliza qualquer defesa e abala a confiança interna.
Rever ou implementar políticas de cartão corporativo, mobilidade e reembolsos é hoje uma das formas mais simples, baratas e eficazes de fortalecer compliance trabalhista e reputacional. São ajustes internos que reduzem litígios, evitam distorções e reforçam uma cultura de responsabilidade. Empresas que tratam o tema com seriedade se antecipam aos riscos e constroem ambientes mais seguros, previsíveis e profissionais para crescer.